domingo, 14 de agosto de 2011

POR QUE SER PROFESSOR?


POR QUE SER PROFESSOR?

Profª. Fabrícia Winkler


   A beleza existe em todo lugar. Depende do nosso olhar, da nossa sensibilidade; da nossa consciência, do nosso trabalho e do nosso cuidado. A beleza existe porque o ser humano é capaz de sonhar. A realidade, contudo, é, muitas vezes, bem diferente do sonho.
   
                                                                                                        Moacir Gadotti.

                                                      Porque sou professor?

   A resposta talvez possa ser encontrada numa mensagem, deixada por um prisioneiro de campo de concentração nazista, na qual, depois de viver todos os horrores da guerra –“crianças envenenadas por médicos diplomados; recém nascidos mortos por enfermeiras treinadas; mulheres e bebês fuzilados e queimados por graduados de colégios e universidades” – ele pede aos professores que ajudem seus alunos a tornarem-se humanos”, simplesmente humanos . E termina: “ler, escrever e aritmética só são importantes para fazer nossas crianças mais humanas”.
   Talvez esteja ai a chave para entender a crise em que vivemos: perdemos o sentido do que fazemos, lutamos por salário e melhores condições de trabalho, sem esclarecer a sociedade sobre a finalidade de nossa profissão, sem justificar por que estamos lutando. A esperança ainda alimenta essa difícil profissão. Há uma ânsia para saber o que fazer quando todas as receitas governamentais já não conseguem responder.
    Na sua maioria, ou encontram receitas tecnocráticas, que causam ainda maior frustração, ou encontram profissionais da “Pedagogia da ajuda”, que encantam com suas belas e sedutoras palavras, fazem rir enormes platéias numa cartase coletiva. E voltam vazias como entraram depois de assistirem ao show desses falsos pregadores da palavra. Voltam com a mesma pergunta: - “O que estou fazendo aqui?”- “Por que não procuro outro trabalho?” – “Para que sofrer tanto?” – “Por que, para que ser professor?”
    Em sua essência, ser professor, hoje, não é nem mais difícil nem mais fácil do que era em algumas décadas. É diferente. Diante da velocidade com que a informação se desloca, envelhece e morre diante de um mundo em constante mudança, seu papel vem mudando, senão na essencial tarefa de educar, pelo menos na tarefa de ensinar, de conduzir a aprendizagem e na própria formação, que se tornou permanentemente necessária.
   As novas tecnologias criaram novos espaços do conhecimento. Agora, além da escola, também a empresa, o espaço domiciliar e o espaço social tornaram-se educativos. Cada dia mais pessoas estudam em casa, pois podem, de lá, acessar o ciberespaço da formação e da aprendizagem a distância, buscar “fora” – a informação disponível nas redes de computadores interligados – serviços que respondem às suas demandas de conhecimento.
   Na formação continuada necessita-se de maior integração entre os espaços sociais (domiciliar, escolar, empresarial...) visando a preparar o aluno para viver melhor na sociedade do conhecimento.
   Hoje vale tudo para aprender. Isso vai além da reciclagem e da atualização de conhecimentos e muito mais além da “assimilação” de conhecimentos. A sociedade do conhecimento é uma sociedade de múltiplas oportunidades de aprendizagem. As conseqüências para a escola, para o professor e para a educação, em geral, são enormes: ensinar a pensar;saber comunicar-se; saber pesquisar; ter raciocínio lógico; fazer sínteses e elaborações teóricas; saber organizar o seu próprio trabalho; ter disciplina para o trabalho; ser independente e autônomo; saber articular o conhecimento com a prática; ser aprendiz autônomo a distância.
    Nesse contexto, o professor é muito mais um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação. O aluno precisa construir e reconstruir conhecimento a partir do que faz. Para isso, o professor também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o “que fazer” dos seus alunos. Ele deixará de ser um “lecionador”, para ser um organizador do conhecimento e da aprendizagem.
   Ser professor não será um ofício em risco de extinção? Certo professor sim, está em risco de extinção. O funcionário da eficácia e da competitividade pode existir, mas terá se demitido de sua função de professor. Hoje há uma evidente contradição entre o professor em branco e preto, o professor “mono cultural”, bem formado, seguro, claro, paciente, trabalhador e distribuidor de saberes, eficiente, exigente, e o professor “intermulticultural”, que não é um “daltônico cultural”, que se dá conta da heterogeneidade, capaz de investigar, de ser flexível e de recriar conteúdos e métodos, capaz de identificar e de analisar problemas de aprendizagem e de elaborar respostas às diferentes situações educativas. Um não se pergunta por que ser professor. Simplesmente cumpre ordens, currículos, programas, pedagogias. Outro se questiona sobre o seu papel.
   O que é ser professor hoje?
- Ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo com consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem educadores. Os educadores, numa visão emancipadora, não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos marqueteiros, eles são os verdadeiros “amantes da sabedoria”, os filósofos de que nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber – não o dado, a informação, o puro conhecimento – porque constroem sentido para a vida das pessoas e para a humanidade e buscam juntos, um mundo mais justo, mais produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são imprescindíveis.



Boniteza de um sonho: ensinar -e- aprender com sentido/ Moacir Gadotti. – Curitiba: Positivo, 2005.  - (Séries práticas educativas)




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